Enquanto isso, no elevador...

Só há três formas de viajar num elevador: sozinho, acompanhado por pessoas conhecidas ou acompanhado por estranhos. Há também a possibilidade de estranhos muito estranhos.
Nos dois primeiros casos o espelho é ideal para arranjar a roupa, o cabelo, ou até o baton. No terceiro caso, o espelho serve para observar os companheiros de viagem. E tudo é possível, quando se está em um elevador com mais de 30 anos e que percorre vagarosamente as 9 paradas lotadas de passageiros. Seria pior que ônibus, se não fosse o preço da passagem!
Tenho andado muito de elevador. Hoje, conheci uma senhora quando retocava seu baton vermelho. Fitei-a pelo espelho e ela percebeu. Figura exótica, no mínimo! Pense numa roupa de flanela com bordados de flores secas! Se não for moderninha, trata-se de uma louca da década de 40! Pois bem. Logo ela prontificou-se com um comentário:

- Que bom que aqui tem espelho, não é?
- Pode ser útil - falei enquanto agora me olhando no reflexo.
- Você trabalha aqui no prédio?
- Não. E você?
- Aqui e ali. Gosto de andar de elevador.
- humm!
- E você?
- Há! É melhor que escada, muitas vezes.

A mulher dá uma lambida no lábio e fala:

- Gosto dos elevadores de São Paulo. A viagem é mais longa.
- Eu prefiro entrar e sair logo. O Celular nem pega aqui! Tem hora que eu tenho medo!

(E confesso: essa hora eu tava com muito medo, mas não do elevador!)

Pausa. Entra um cara no terceiro andar, indo para a garage 2.

- Malu, que saudade!
- Olá Dr. Afonso. Como vai o sr.?
- Bem. E aquele negócio lá do elevador? A mulher morreu?
- Não. Está bem. Acabou de ganhar a causa. Teremos que pagar indenização.

Desci na G1.

- Ceará (nome carinhoso para o vigia), uma história doida de elevador ali... esse povo tá me dando é medo.
- ah! Deve ser a dona Malu. Ela é dona de uma empresa de elevador aí! Gente fina!

Moral da história... cuidado! Em tempo de incerteza é melhor ficar quieto. Parecer até parecia, mas não era!